opinião

Espelho, espelho meu!


Final de ano é época de muitos encontros: das amigas da academia, do patchwork, ex-colegas de colégio, da universidade, dos ex-alunos... Enfim, não faltam comemorações e motivos. Dia desses, em um encontro com amigas, todas da mesma faixa etária, talvez um ano mais, um ano menos, o tempo ganhou destaque, dentre outros assuntos: viagens, maridos (as que ainda possuem), filhos, netos (o sonho de todas). O tempo no sentido de idade, de marcas, de rugas.

Algumas, como competentes profissionais da área da saúde, contavam as últimas novidades na área estética. Botox já está quase demodê, além do que os efeitos da aplicação desaparecem em pouco tempo. A novidade é o ácido hialurônico. Uma picadinha aqui. Outra picadinha ali e adeus bigode chinês e pés de galinha. A conversa foi tão empolgante quanto sincera, ao ponto de umas mostrarem as fotos do antes e do depois. Outras confessaram que a data do procedimento já estava agendada.  

Participei da conversa com o olhar curioso de quem tem dúvidas sobre a necessidade de manter uma aparência jovem. Meu conhecimento sobre estética é tão limitado quanto os procedimentos que faço. Ouvi silenciosa e atentamente. Quem sabe eu pudesse me entusiasmar pela ideia! Nada mal, os tempos em que ao olhar no espelho, o peso da idade não era percebido. Nada mal, os tempos em que a história não era retratada em rugas. Lá pelas tantas, a nova rodada de espumante e a crocante torta de limão roubaram a cena. As rugas foram trocadas pelo contraste e pela perfeita combinação de sabores. Desde aquele dia, o assunto não me saiu da cabeça. A cada olhada no espelho, uma análise crítica se iniciava. Hoje, eles dominam os espaços. Estão nos elevadores, lojas, restaurantes, bares, até em escritórios. A todo o instante que me via refletida.  

Pedia a confirmação: Espelho, espelho meu, que rugas tenho eu? Passei vários dias fazendo este questionamento. Concluí que eliminar as rugas da testa não seria o bastante para eu me sentir rejuvenescida. Quem sabe mais os pés de galinha? Quando eu dou risada (risadas e gargalhadas são essenciais para mim) percebi que fica plissadinho no canto dos olhos. Mas, e o bigode chinês? E o contorno da boca? Estiquei aqui. Estiquei ali. Tentando fazer um exercício da minha necessidade. Achei que o pescoço e o queixo não combinariam com as esticadas. De repente, até o nariz entrou em desarmonia. Concluí que os procedimentos não seriam suficientes. Pensamentos são livres. Não precisamos pagar impostos para tê-los. A insatisfação me deu a impressão que procedimentos estéticos é como coçar, basta começar. Sempre haverá motivos para mais um, seja pelo aumento do grau de exigência ou pelo desejo da juventude eterna. Pode ser que eu mude de opinião. Por enquanto, meu limite serão os cabelos coloridos, mas uma certeza tenho, o importante é que cada um seja como deseja ser, sem a necessidade de atender expectativas alheias.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Um grito pela vida Anterior

Um grito pela vida

Espelho, espelho meu! Próximo

Espelho, espelho meu!

Colunistas do Impresso